Terapia nutricional em cirurgia: Pré e pós-operatório, fístulas digestivas, pancreatite, distúrbios

Dr. Daniel Magnoni
Dr. Celso Cukier

Na terapêutica atual de entidades mórbidas que desencadeiam hipermetabolismo, a terapia nutricional enteral e parenteral passou a ser considerada imprescindível. Sua importância eqüivale às terapias consideradas anteriormente como primárias e onipotentes, como cirurgia, anestesia, antibióticoterapia etc.
Condições hipermetabólicas elevam consideravelmente o gasto energético. Quando associada desnutrição surgem conjuntamente as dificuldades para manter o estado nutricional adequado. Fatores como anorexia, dor abdominal, diarréia/esteatorréia, obstrução parcial ou total do tubo digestivo, perda de nutrientes por orifícios fistulosos etc., podem contribuir para o agravamento da desnutrição que, por ventura, pode ser prévia à terapêutica adotada, independentemente da patologia em questão.
A desnutrição, por sua vez, eleva consideravelmente as complicações. A maior permanência do paciente no ambiente hospitalar aumenta o risco de infecção, aumenta o custo e piora a qualidade de vida do paciente.
Pode-se observar no quadro abaixo as complicações mais comuns do paciente desnutrido no período pós-operatório:

Diminuição da cicatrização
Deiscência da incisão cirúrgica
Deiscência da anastomose
Diminuição da resistência a infecções
Pneumonia pós-operatória
Infecção da ferida operatória
Infecção do trato urinário
Inabilidade a adaptações orgânicas pós operatórias
Adaptação insuficiente a ressecções
Úlcera de decúbito

Observa-se claramente a importância do estado nutricional do paciente a ser submetido a procedimento cirúrgico. A atuação prévia e precoce ao procedimento pode diminuir as complicações pós operatórias e o tempo de internação. Torna-se importante identificar o paciente desnutrido ou em risco de desnutrição para que a melhor recuperação faça parte do objetivo terapêutico.
Mullen e Buzby (1980) desenvolveram o índice prognóstico nutricional (IPN), baseados em 16 parâmetros do estado nutricional e imunológico em 64 pacientes consecutivos submetidos à cirurgia eletiva. Observaram, os autores, que 35% dos pacientes tinham pelo menos três medidas nutricionais ou imunológicas alteradas. Em especial, diminuição dos níveis de albumina sérica, transferrina sérica e reação de hipersensibilidade promoviam maior morbidade e mortalidade. Baseado nesses dados a seguinte fórmula pode ser utilizada:
IPN (risco %) = 158 – 16,6 (ALB) – 0,78 (PCT) – 0,2 (TFR) – 5,8 (RHT)
ALB = albumina em g/dl
PCT = prega cutânea do tríceps em mm
TRF = transferrina sérica mg/dl
RHT = nódulo de reação à hipersensibilidade tardia em mm
Sendo:
Risco baixo: IPN < 40%
Risco intermediário: IPN de 40 a 50%
Risco elevado: IPN > 50%

Referências:

.Campos & Coelho – Pré, per e pós-operatório. In: Waitzberg DL – Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. Ed Atheneu. 1995. pp. 468-72..
Campos e col. – Intravenous fish oil attenuates experimental colites. JPEN. 23:S23, 1999.
Corrêa, CAMF – Pancreatite aguda e crônica. In: Waitzberg DL – Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. Ed Atheneu. 1995. pp. 440-45.
Lameu, EB – Doenças inflamatórias do intestino. In. Riela, MC. Suporte nutricional parenteral e enteral.Ed. Guanabara-Koogan. 1993. pp.204-215.
Lisboa e col. – Fístulas digestivas. In: Waitzberg DL – Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. Ed Atheneu. 1995. pp. 416.
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Tremolieres, J – Traitment médical des fistules digestives externes. J. Chir. 5:473, 1965.