Síndrome da angústia respiratória aguda

                  A  SÍNDROME  DA  ANGÚSTIA  RESPIRATÓRIA  AGUDA ( SARA ) pode  ser  descrita   como  um processo inflamatório   difuso que envolve os dois pulmões, através do acúmulo de material exsudativo (eritrócitos, leucócitos  e  debris protéicos )  (1) .

FISIOPATOLOGIA  DA SARA

                A  despeito das múltiplos fatores desencadeantes de  SARA ( tabela 1 ) , as consequências sobre o parênquima pulmonar são uniformes

               Inicialmente, existe uma intensa  resposta inflamatória intersticial pulmonar causando dano alveolar e endotelial ,levando  a um aumento de permeabilidade vascular e deteriorização da troca gasosa (2,3).

Tabela 1

MÚLTIPLAS  CAUSAS  DE   SARA

Hipertensão intracraniana

Hemoderivados

Cateteres

Drogas

Pneumonia

Contusão pulmonar

Bypass cardiopulmonar

Pancreatite

Translocação bacteriana

Endotoxemia

Urosepse

Embolia por liquido amniótico

Fratura de ossos longos

Modificado de MARINO PL, SÍNDROME DE ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA  In: Compêndio de UTI, 2 ed, MARINO PL, ARTMED 1999, pp 306 – 318

          Os macrófagos atuam liberando citoquinas e mediadores inflamatórios que acabam regulando a intensidade da resposta  inflamatória local ( tabela 2 ). Os neutrófilos subseqüentemente

Liberam também agentes históxicos locais.

Tabela 2

MEDIADORES INFLAMATÓRIOS NA  SARA

CITOQUINAS   :

       –  INTERLEUCINAS

       –  FATOR DE NECROSE  TUMORAL

       –  INTERFERONS

COMPLEMENTOS PROTÉICOS

PRODUTOS DE DEGRADAÇÃO DE FIBRINA

PROSTAGLANDINAS

LEUCOTRIRNOS

FATOR  ATIVADOR  PLAQUETÁRIO

 

Modificado de FONER BJ, NORWOOD  S,TAYLOR RW: THE ACUTE RESPIRATORY DISTRESS SYNDROME  In:Critical Care.3rd, ed. CIVETTA JM, TAYLOR RW, KIRBY RR (Eds). Philadelphia, Lippincott-Raven,1997,pp 1825-1839.

         Em resumo  a  SARA  se caracteriza  básicamente  por:

  •       Å complacência  pulmonar
  •       Å do  volume pulmonar
  •       hipóxia  refratária
  •       resolução demorada

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

  •           Taquipnéia e hipoxemia progressiva  em pacientes com uma condição que predispõe SARA
  •           Hipoxemia refratária a suplementação de oxigênio
  •           RX de tórax ( nas primeiras 24 h ) com infiltrado pulmonar bilateral
  •           Necessidade de suporte ventilatório, nas primeiras 48 h de doença

Em 1994, especialistas europeus e americanos propuseram um consenso diagnóstico para SARA ( tabela 3 ).

Tabela 3

PARÂMETRO                                                                     SARA
 

INÍCIO                                                                                 AGUDO

CONDIÇÃO CLÍNICA                                   CONDIÇÃO PRESDIPONENTE

TROCA GASOSA                                            PaO2/FiO2   <  200 mmHg
Rx de tórax                                                        infiltrado  bilateral
PRESSÃO CAPILAR PULMONAR             < ou =  18 mmHg

Ame SÍNDROME DA  ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

CLASSIFICAÇÃO  DA  SARA

           De forma didática podemos, classificar a  SARA de acordo com o mecanismo de lesão da menbrana alvéolo-capilar (5)

A)   LESÕES DIRETAS ( VIA EPITELIAL ) ou  SARA PRIMÁRIA :

Aspiração, infecção pulmonar difusa, quase-afogamento , inalação de gases tóxicos, contusão pulmonar.

B)   LESÕES INDIRETAS ( VIA ENDOTELIAL ) ou SARA SECUNDÁRIA :

Síndrome séptica, politrauma, politransfusão, pancreatite, embolia gordurosa, CIVD, intoxicação por drogas, pós circulação extra-corpórea, etc.

            Quanto as fases clínicas evolutivas da SARA,  Moore estabeleceu o seguinte escore

FASES  DA SARA ( MOORE)            

FASE CARACTERÍSTICAS
    I

  Bom aspecto geral, FR elevada,RX de tórax normal , gasometria com hipoxemia

   

II

  Pioram a taquipnéia, a hipóxia e a alcalose respiratória, RX de tórax com infiltrado alveolar discreto.

   

III

   Aumenta o infiltrado intersticial, a hipoxemia,PaCO2 baixa, acidose metabólica ( ácido lático ),confusão mental,necessidade de VM invasiva ou não

   

IV

  Acidose metabólica grave associada a acidose respiratória , risco de morte.

   

TRATAMENTO 

Por se tratar  de patologia que  cursa com grande morbi-mortalidade o tratamento deverá ser instituído de maneira precoce e contundente , e é baseado em duas frentes terapêuticas :

  •                 Tratamento ventilatório ( ESTRATÉGIA PROTETORA PULMONAR, conforme demonstrado na tabela 4 )
  •                 Medidas gerais , que visam a homeostase hemodinâmica, o tratamento da etiologia da SARA e a otimização nutricional ( tabela 5 )

Tabela 4 – Modos de Ventilação na SARA

Ventilação convencional

 Estratégia protetora pulmonar

   

Assistida/controlada

 Modos limitados a pressão (PSV,VAPSV  e  PCV * )

   

Volume corrente (VT) =12 ml/kg

VT< 6ml/kg ( na região de melhor

 

complacência )

   

PEEP p/ conseguir fração de oxigênio ( FiO2 ) < 60 %  sem prejuízo hemodinâmico

 PEEP “ideal” ( calcular curva de complacência )

   

PaCO2  25-38 mmHG

PaCO2 40-80 mmHG ( hipercapnia permissiva )

   

Pressão máxima das vias aéreas não limitada

Pressão máxima das vias aéreas limitadas em 40 cmH20

   

Sem manobras de recrutamento alveolar

Manobras de recrutamento alveolar

   

PSV : VENTILAÇÃO COM SUPORTE PRESSÓRICO; PCV : VENTILAÇÃO COM PRESSÃO CONTROLADA;VAPSV : VENTILAÇÃO COM SUPORTE PRESSÓRICO COM VOLUME GARANTIDO

Modificado de BARBAS CSV, AMATO HBP. SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO. In. SEPSE. CLÍNICAS BRASILEIRAS DE MEDICINA INTENSIVA. SILVA E.,FRIEDMAN G. (EDS), ANO 4,VOL 7,1999.

Tabela 5

Medidas gerais

Controle do fator desencadeante : primário e secundário

Controle hemodinâmico adequado :  Consumo de O2 ( VO2)

                                                               Conteúdo arterial de O2 (Ca02 )

                                                               Débito cardíaco ( DC )

                                                               Balanço hídrico

                                                               Drogas vasoativas

                                                               Equilíbrio hidro-eletrolítico

Tratamento farmacológico : Corticoterapia

                                                 Surfactantes

                                                 Óxido nítrico (NO ),etc

Terapia nutricional

_______________________________________________________________

REFERÊNCIAS:

1       – KOLHEF MH, SCHUSTER DP, The acute respiratory distress      syndrome. N Engl med 1995; 332:27-37

2       -WINDSOR ACJ, MULLEN PG, FOWLER AA,SUGERMAN HJ.Role of the neutrophil in adult respiratory distress syndrome . Br  J  Surg 1993; 80 : 10-17

3       – DONNELY SC, HASLETT C , DRANSFIELD I , et  al. Role of selectins in development of  adult  respiratory distress syndrome. Lancet 1994 ;344:215-219.

4       –   BERNARD  GR, ARTIGAS A, BRIGHAM KL et al. The american-european consensus conference on ARDS: definitions,mechanisms, relevants outcomes and clinical trial coordination. Am Rev Resp Crit  Care Med 1994;149:818-824

5       –  AMATOS MBP, BARBAS CSV. Suporte ventilatório na síndrome de angústia respiratória aguda (SARA). II  Consenso brasileiro de ventilação mecânica. J Pneumol 26 (supl 2),maio 2000

6       –      BARBAS CSV,AMATO MBP. Síndrome do desconforto respiratório agudo. In Sepse. Clínicas brasileiras de medicina intensiva, SILVA E., FRIEDMAN G., (EDS) ano 4, vol 7,1999.

rican – European Consensus Conference on ARDS