Andréa Gislene do Nascimento
Nutricionista do ambulatório de obesidade do Instituto da Criança " Professor Pedro de Alcantara" do HCFMUSP
A obesidade vem aumentando gradativamente nos últimos anos, porem, estudos epidemiológicos sobre indicadores da obesidade são muito escassos em países em desenvolvimento. Segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição de 1989, no Brasil existem 1,5 milhão de crianças obesas, sendo a maior prevalência em meninas, nas regiões sul e sudeste.
É uma afecção considerada grave, na criança e no adolescente, pois vários estudos apontam estreitas ligações entre a obesidade nessa fase e doenças na vida adulta como diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia.
Define-se obesidade como um distúrbio do estado nutricional traduzido por um aumento de tecido adiposo, reflexo do excesso de gordura resultante do balanço positivo de energia na relação ingestão/gasto calórico (SAITO, 1996).
A obesidade é uma doença multifatorial e as suas causas podem ser divididas em primárias ou exógenas e secundárias ou endógenas.
· Causas Primárias – alimentação inadequada, sedentarismo e herança genética;
· Causas Secundárias – alterações genéticas, disfunções neurológicas, endocrinopatias e ingestão medicamentosa.
Dentre os fatores determinantes da obesidade que estão relacionados com a alimentação podemos citar:
· Desmame precoce – retirada do leite materno e introdução do leite de vaca. O leite de vaca é freqüentemente introduzido em concentração inadequada com acréscimo excessivo de engrossante e açúcar;
· Hábito alimentar – famílias com hábito alimentar inadequado, influenciando de forma negativa a alimentação da criança. Normalmente utilizam alimentação rica em gordura e açúcar refinado, pobre em fibras. Se este hábito alimentar não for corrigido na infância vai se manter nas fases posteriores;
· Acesso a alimentação – as crianças possuem acesso fácil a alimentos e preparações com alta densidade energética. Na maioria das vezes as crianças tem disponível em casa biscoitos, salgadinhos, guloseimas, pães, enlatados, alimentos de preparo instantâneo, pois, são mais fácil de serem preparados e consumidos;
· Influência da mídia e dos amigos;
· Aspecto psicossocial – os pais dão carinho e recompensas através da alimentação.
O diagnóstico da obesidade pode ser realizado através da avaliação das curvas pondero- estaturais e o índice de Massa Corpórea (IMC).
· Avaliação das Curvas Pondero – Estaturais – define-se como obesa a criança e o adolescente que apresentar diferenças maiores do que 40 percentis entre o peso e a altura. Pode ser utilizada a Curva de Marcondes ou do NCHS. A vantagem da utilização de curvas é que permite um diagnóstico precoce da obesidade;
· Índice de Massa Corpórea (IMC) – é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Permite um acompanhamento clínico individual. Derivado da relação entre o peso e a estatura ao quadrado, sendo as medidas de peso em quilos e a estatura em metros. O IMC é considerado fidedigno em vários estudos realizados em crianças e adultos, tendo sido desenvolvidos gráficos para ambos os sexos com variações da relação do IMC distribuídos em percentis. Define-se como obesa a criança cujo índice ultrapassar o percentil 97,5 correspondente ‘a sua idade.
Além desses métodos, podem ser utilizados outros para o diagnóstico da obesidade, como pregas cutâneas, o Índice de Obesidade de Newen-Godstein (IO), a Relação de Peso/Estatura (P/E), ou Bioimpedância e o DEXA (Dual Energy-Ray Absorptiometry).
A obesidade pode desenvolver uma seríe de complicações como o surgimento de hipertensão arterial e diabetes, aumento do colesterol total, HDL e triglicerídes, problemas ortopédicos, dermatológicos e respiratórios.
Por ser uma doença multifatorial, para o seu tratamento é muito importante o trabalho de uma equipe multiprofissional, composta de médico e nutricionista, o auxilio de outros profissionais como professor de educação física, psicólogo e assistente social, torna-se necessário também, em muitos casos.
Ao planejar o tratamento, deve-se prever uma dieta adequada ‘a idade e a fase de crescimento e desenvolvimento e incluir também atividade física e apoio psicológico (individual e familiar).
TRATAMENTO DIETOTERÁPICO:
Os objetivos da dietoterapia consistem em:
· Perda e/ou manutenção do peso;
· Educação alimentar;
· Mudanças de comportamento.
Deve-se orientar uma dieta normal para idade, de acordo com a fase de crescimento e desenvolvimento. No caso de adolescentes é importante também considerar a fase de maturação sexual para o planejamento da dieta uma vez que só são recomendados dietas mais restritivas quando já se atingiu o potencial de crescimento (estirão).
Para elaborar a conduta dietoterápica é importante observar se existe outras patologias associadas a obesidade, como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia.
De uma forma geral, recomenda-se uma dieta com as seguintes características:
· Calorias de acordo com as recomendações para a idade
· Distribuição calórica
ü proteínas – 10 a 15% do VCT
ü carboidratos – 55 a 60% do VCT
ü gorduras – 30% do VCT
· Padrão e disciplina alimentar
ü Fracionamento – 5 a 6 refeições/dia
ü Não consumir alimentos nos intervalos das refeições
· Composição
ü Controlar os tipos de gorduras consumidas, reduzindo a gordura saturada e aumentando as gorduras polinsaturadas;
ü Reduzir o consumo de carboidratos simples e aumentar a ingestão de carboidratos complexos;
ü Aumentar a ingestão de fibras;
ü Proibir o consumo de alimentos de alta densidade energética.
· Administração
ü Não ingerir líquidos junto com as refeições do almoço e jantar;
ü Não repetir as porções de alimentos e preparações;
ü Comer devagar e mastigar bem os alimentos;
ü As refeições devem ser realizadas em ambiente tranqüilo e agradável;
ü Incentivar as refeições ‘a mesa junto com a família.
As famílias devem ser conscientizadas da importância da sua participação no tratamento.
Os pais devem ser orientados quanto a aquisição e o comportamento de preparo dos alimentos. As mudanças de comportamento devem ser incorporadas no hábito alimentar da criança e/ou adolescente e da família.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1- DAMIANI,D. et al. Obesidade na infância – um grande desafio! Pediatria
Moderna, v.36, n. 8, p. 489 – 523, ago/2000.
2- FRANCISCHI, R.P.P. et al. Obesidade: Atualização sobre sua etiologia,
Morbidade e tratamento. Revista de Nutrição Campinas, v. 13, n.1, p.17-
28, jan/abril, 2000.
3- GAMBA, E.M. et al. A utilização do Índice de Massa Corporal na avaliação
da obesidade na infância: Vantagens e limitações. Revista Paulista de
Pediatria, v.17, n.4, p. 181-89, 1999.
4- RESEGUE, R. et al. Obesidade na Infância. In: SUCUPIRA, A.C.S.L.
Pediatria em Consultório. 4.ed. São Paulo, 2000. p. 258-66
5- SAITO, M.I. et al. Obesidade na Adolescência. In: SUCUPIRA, A.C.S.L.
Pediatria em Consultório. 3.ed. São Paulo, 1996. p. 601 -07