Nutrologia Pediátrica – Intolerância à lactose

Fernanda Crancianinov Mota

Saiba o que é a intolerância digestiva ao leite e como conviver com esse problema, que atinge cerca de 25% dos brasileiros.

Você já se imaginou proibido de comer uma pizza com mussarela, tomar um sorvete ou devorar um pedaço de bolo de chocolate? "Claro, quando estou de dieta", você deve ter pensado. Mas saiba que muita gente, mesmo sem estar fazendo qualquer tipo de regime para emagrecer, não pode consumir estas e outras diversas guloseimas que contenham leite! O motivo? Intolerância à lactose, ou melhor, ao principal açúcar componente do leite de origem animal. "Mas não pode nunca? Nem um pedacinho?". Felizmente muitos podem tolerar certos tipos de alimentos em pequenas quantidades, mas há quem não possa nunca consumir leite, derivados, ou qualquer alimento que os contenha. O preço pago por ceder a determinados prazeres gastronômicos certamente convence quem ao menos tenta: inchaço e dores abdominais, além de diarréia. Vai arriscar?

Por que se desenvolve a Intolerância à lactose?

Segundo o Professor Adjunto Doutor Mauro Fisberg, chefe do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo, o problema pode ser:

Genético: um caso muito raro, quando a criança já nasce sem a capacidade de produzir a principal enzima responsável pela digestão do açúcar do leite. Pelo fato de o leite materno também conter lactose, o bebê sofre os sintomas desde o seu nascimento.

Transitório: bastante comum em crianças a partir do primeiro ano de vida. Pode ser desencadeada por uma diarréia prolongada que provoque lesão na mucosa do intestino e morte das células locais produtoras da enzima. A digestão do leite volta ao normal assim que as células intestinais são repostas.

A diminuição na digestão do leite é natural!

Muitos adultos apresentam desde criança, ou desenvolvem gradualmente ao longo da vida, uma reduzida produção da enzima responsável pela digestão do leite, a lactase. Segundo o Professor Livre Docente de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Rubens Feferbaum, "a diminuição na digestão do leite é normal com o avançar da idade e até mais freqüente em algumas raças". Segundo ele, a partir do segundo ao terceiro ano de vida a digestão láctea é naturalmente reduzida para 30 a 10% da capacidade inicial de um bebê recém nascido. A incidência da sua baixa digestibilidade também é observada segundo a própria adaptação genética aos hábitos das populações: "negros e orientais apresentam menor tolerância ao leite". Portanto, o termo "deficiência de lactase", freqüentemente empregado, é um equívoco, uma vez que nem todos são tão "eficientes" na produção desta enzima, a lactase.A sua função é quebrar o açúcar do leite, a lactose, em moléculas menores para que estas possam ser absorvidas. Quando essa enzima é insuficiente, o açúcar passa, sem ser quebrado, em grande quantidade para o intestino grosso, onde há bactérias que o fermentarão. A lactose não digerida desencadeia uma produção anormal de gases (carbônico e hidrogênio) e retenção de líquidos no intestino. Estas reações podem provocar alguns sintomas desagradáveis, como dores abdominais, cólicas, inchaço e diarréia. Os sintomas podem levar de alguns minutos há horas para aparecer, dependendo da velocidade de digestão da pessoa. O desconforto do paciente o leva a procurar um médico para detectar a possível causa dos sintomas. Segundo o Prof. Dr Mauro Fisberg, há várias formas de se fazer o diagnóstico da intolerância à lactose. "Pode-se fornecer lactose pura ao paciente e durante as horas seguintes recolher amostras de sangue que indicam os níveis de glicose. Se a pessoa for intolerante à lactose, a concentração de glicose no sangue aumenta muito pouco ou não aumenta, devido à baixa atividade da enzima. Outro indícios são verificados pela acidez ou pela cor das fezes. Em excesso, os ácidos produzidos e os açúcares não digeridos alteram o pH e a coloração fecal. Ou então, de forma indireta, medir a quantidade de hidrogênio, produzido durante a fermentação da lactose pelas bactérias, exalado na respiração." Cabe ao médico escolher o método a que seu paciente apresente menos interferências nos resultados.A principal forma de "tratamento" da intolerância à lactose é pela restrição dos alimentos que contenham leite ou derivados entre os componentes, pois ainda não há método capaz de aumentar a produção da enzima lactase. O controle dos sintomas deve ser feito pelo próprio paciente através de cuidados com a alimentação. Algumas pessoas não são tão "intolerantes" ao leite a ponto de ter que restringi-lo totalmente. Segundo o Prof. Livre Docente Rubens Feferbaum, nos casos em que a criança não esteja sendo amamentada ao seio e a ingestão láctea se faz através de fórmulas a base de leite ou com leite in natura, o mercado traz alternativas destes produtos sem lactose. Para os adultos, o limite de lactose suportado, sem que apareçam os sintomas, deve ser conhecido ao longo da própria experiência. Neste caso, também já existe para vender um leite cuja grande parte da sua lactose já está "quebrada" e apresenta alta digestibilidade. Da mesma forma, a ingestão de iogurtes é permitida, pois as bactérias presentes na sua fórmula (os lactobacilos) fermentam a lactose em quantidade suficiente para a digestão deste açúcar. Para os que apresentam alta rejeição ao leite pode-se utilizar alguns substitutos não só para se evitar os sintomas mas também para não se privar de fontes nutricionais características ao leite de vaca. O "leite" de soja, além de ser uma opção mais barata que os leites sem lactose do mercado, apresenta nutrientes semelhantes ao leite de origem animal, sendo igualmente uma importante fonte de cálcio e proteínas. Mas nem só de restrições é a vida de um "intolerante" à lactose. Para quem não resiste cair em tentação de vez em quando, há no mercado norte-americano uma pílula de pura lactase; você mastiga cerca de três comprimidos antes de cair de boca naquele doce delicioso…afinal, ingerir lactose apenas "socialmente" também é necessário para se ter uma vida normal em companhia dos amigos em bares, festas ou restaurantes!

Saiba mais acessando os seguintes sites relacionados ao assunto:
Nacional:
http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2001/grupo1/intolerancia.htm
Internacional: http://ourworld.compuserve.com/homepages/stevecarper/drops.htm e www.nomilk.com

Os cuidados com a alimentação:

1- Alimentos que devem ser evitados: Tudo que contenha leite de origem animal ou seus derivados (queijos, manteiga, requeijão, etc.) na sua composição. A leitura de rótulos é indispensável.

2 – Alternativas: Leites sem lactose: NAN Sem Lactose (Nestlé) e O-Lac (Mead Johnson)Leites com baixa lactose: Zymil (Parmalat)Iogurtes Alimentos à base de sojaPílula de lactase: Lactaid (McNeil Nutritionals)

Intolerância ou Alergia?

Assim como outros alimentos, o leite também pode desencadear uma alergia. Responsável por 29,3% do total de reações alérgicas causadas pela ingestão de certas comidas, a resposta alérgica provocada pelo leite tem origem diferente da sua intolerância e apresenta outros sintomas.O termo "alergia" é utilizado quando uma substância provoca uma reação no mecanismo de defesa (imunológico) do organismo contra certo composto do alimento. No caso do leite de vaca, algumas de suas proteínas são responsáveis por essa resposta, que pode ser imediata ou demorar até 72 horas, o que torna o seu diagnóstico muitas vezes difícil. As reações mais comuns são: ardor e erupções cutâneas, náusea, vômito, diarréia, dor abdominal, podendo até levar o paciente ao estado de choque seguido de morte, dependendo da intensidade das manifestações. Outra diferença em relação à intolerância é o seu fator hereditário: a alergia tem maior incidência quando já verificados outros casos alérgicos dentro da família. Recomenda-se como prevenção que a mãe adie ao máximo a introdução de proteínas estranhas às do leite materno. Como tratamento, é necessário a conscientização do paciente: estar bem informado dos conteúdos dos alimentos, ler rótulos, evitar a contaminação com utensílios e carregar consigo uma identificação sobre a sua alergia é fundamental!