Daniel Magnoni
Cardiologista e Nutrólogo
Chefe do setor de Nutrição clínica do Hcor
Celso Cukier
Nutrólogo
Especialista em Nutrição esportiva
Orientações dietéticas em competições esportivas foram utilizadas há vários séculos por gregos e romanos. Diogenes Laertius (220 A.C.) sugeriu alimentação a base de figos secos, queijo úmido e nata de leite a atletas gregos. Evitar doces e água gelada era recomendado por Diógenes (200 A.C.).
O auxílio ergogênico é fato presente desde a antigüidade, quando era baseado em superstição e atos ritualísticos. Atletas e soldados eram preparados com dietas constituídas de partes específicas de animais com o intuito de conferir agilidade, velocidade e força
Entretanto, ainda neste século ocorrem dúvidas quanto ao regime alimentar e preparação dos alimentos para melhorar o rendimento físico em eventos esportivos. Dietas com diferentes teores de gorduras, carboidratos e proteínas foram propostas. Durante a XI olimpíada em Berlim consumia-se diariamente carnes acompanhadas de 125 gramas de manteiga ou óleo de algodão, três ovos, doces e um litro e meio de leite
A falta de informação e a influência de produtos “mágicos” que prometem maior rendimento energético levam a um extremismo dietético pelo atleta e podem, por vezes, prejudicar o treinamento e seus resultados. O estilo de vida profissional, do qual negócios e viagens são freqüentes, pode dificultar a aderência a orientações dietéticas
O hábito dietético errôneo pode ter início na infância. Estudos clínicos importantes demonstraram que crianças entre 9 e 14 anos de idade apresentaram hábitos dietéticos incorretos mesmo na presença de orientação esportiva especializada, demonstrando a pequena importância dada a este tema
A orientação dietética adequada conjuntamente à prática de exercícios orientados pode modificar favoravelmente a estrutura física dos indivíduos, bem como, o sistema imunológico e as dosagens de lípides séricos (triglicérides e colesterol).
A necessidade energética de cada atleta sofre influência de diversos fatores como composição corpórea, tipo, intensidade, duração e freqüência do exercício efetuado
A massa magra é representada pela musculatura e ossos. O aumento da massa magra e de fibras musculares é estimulado pela secreção hormonal anabólica (ex. hormônio do crescimento) induzida pelo exercício e por nutrientes específicos e especializados
A orientação dietética pode variar conforme o tipo de exercício efetuado, já que este relaciona-se diretamente com o gasto energético. O atleta deve, portanto, consumir quantidade mais elevada de alimentos para prover energia necessária ao organismo.
Os Carboidratos são a principal fonte calórica para atletas. As reservas orgânicas de carboidratos permitem maior rendimento em trabalhos de longa duração. As estratégias de treinamento e reposição de carboidratos pós exercícios garantem melhor adaptação orgânica aos exercícios
A ingestão de carboidratos durante exercícios de longa duração (mais que 90 minutos) favorece a recuperação da fadiga precocemente (30 a 60 min). Imediatamente antes do exercício preconiza-se a ingestão de 200 a 400 mL de bebida que contenha carboidratos na concentração de cinco a sete por cento. Durante as primeiras duas horas, a cada 15 minutos deve-se ingerir 100 a 150 mL (carboidratos de 5 a 7%). Após duas horas devem ser ingeridos 100 a 150 mL com concentração de carboidratos de 15 a 20%. Em eventos com menos de duas horas os carboidratos de maior concentração (15 a 20%) devem ser ingeridos no último quarto da atividade física.
A gordura constitui o combustível celular ideal, pois cada molécula carreia grandes quantidades de energia por unidade de peso, é transportada e armazenada facilmente e transformada prontamente em energia. Em repouso, nos indivíduos bem nutridos, a gordura pode proporcionar até 80 a 90% da demanda energética do corpo.
O conteúdo de gordura do corpo constitui cerca de 15% do peso corporal dos homens e 25% do peso das mulheres. Consequentemente, a energia potencial armazenada nas moléculas de gordura de um homem de meia-idade comum é de aproximadamente 100.000 Kcal. A maior parte desta gordura fica disponível para a produção de energia, especialmente durante o exercício prolongado.
À medida que o exercício prossegue por uma hora ou mais e os carboidratos ficam depletados, observa-se um aumento gradual na quantidade de gordura utilizada para obter energia. No exercício prolongado, a gordura (principalmente como ácidos graxos livres) pode proporcionar quase 80% da energia total necessária.
Tradicionalmente a ingestão protéica em atletas é maior que em sedentários. Embora as recomendações de ingestão protéica recomendadas sejam baseadas em indivíduos saudáveis e de vida sedentária (0,8 g/dia), estudos demonstraram que a necessidade protéica e de aminoácidos específicos está aumentada durante o treino atlético regular A necessidade protéica depende de diversos fatores relacionados ao atleta (sexo, idade, ingestão calórico-protéica) e ao exercício (tipo, frequência, duração, intensidade)
A necessidade protéica varia de 12 a 15% da ingestão alimentar. Para treinos onde é fundamental a aquisição da força muscular e a construção e reparação da musculatura tornam-se prioridades. Recomenda-se 1,4 a 1,8 gramas de proteína por kg de peso corpóreo (g/kg). Em treinos de resistência onde é necessário substrato para fonte energética auxiliar aos carboidratos, as proteínas devem ser ministradas na proporção de 1,2 a 1,4 g/kg, podendo chegar a 2,0 g/kg em treinamentos muito intensos
O emprego de aminoácidos específicos (arginina, creatina e ornitina) foi estudada com objetivo de promover aumento do hormônio de crescimento e da massa muscular. Embora não tenha demonstrado resultado satisfatório a manipulação hormonal e de aminoácidos isoladamente necessitam mais estudos para serem utilizadas constantemente como substratos energéticos.
O conhecimento fisiológico do organismo do atleta promoveu o aparecimento de substâncias químicas de diferentes origens e formas de ação, com o objetivo de aumentar a capacidade de força e resistência orgânica. Creatina, carnitina, bicarbonato de sódio, cafeína, ginseng, esteróides anabólicos, hormônio do crescimento, picolinato de cromo, ioimbina, bebidas hiperprotéicas etc. têm sido utilizadas, por vezes, de forma indiscriminada e sem orientação especializada Entretanto, pouco se sabe sobre seu real valor na atividade física. O uso incorreto dessas substâncias é fato comum entre atletas sendo inversamente proporcional ao conhecimento de seus efeitos benéficos e prejudiciais pelo atleta. Sugere-se que algumas substâncias, quando utilizadas adequadamente e com orientação adequada, poderiam beneficiar determinadas categorias de atletas.
A melhor compreensão, do profissional de saúde e do atleta, e a divulgação científica baseada em trabalhos bem planejados trarão modificações importantes na conduta e performance do atleta, com benefícios refletidos em seu resultado final na competição e no seu estado de saúde
No check up esportivo do Hospital do Coração existe uma atuação multiprofissional muito intensa. Os profissionais médicos, na elaboração dos laudos e nos momentos de orientação individual, lançam mâo das informações colhidas pelos vários profissionais. Nesse sentido, a avaliação nutricional e o conhecimento do atleta pode modificar a performance esportiva.