Nutracêuticos e Doenças Cardiovasculares

Nutracêuticos envolvidos com a cura de doenças Cardiovasculares

Rodrigo Oliveira

O nutracêutico é um alimento ou parte dele que proporciona benefícios médicos e de saúde, incluindo a prevenção e/ou tratamento da doença. Tais produtos podem abranger desde os nutrientes isolados, suplementos dietéticos na forma de cápsulas e dietas até os produtos beneficamente projetados, produtos herbais e alimentos processados tais como cereais, sopas e bebidas (KWAK & JUKES, 2001; ROBERFROID, 2002; HUNGENHOLTZ, 2002; ANDLAUER & FÜRST, 2002).

O termo “nutracêutico” surgiu em 1989, derivado da junção das palavras “nutrição” e “farmacêutico” por Stephen De Felice MD, fundador e presidente da Fundação pela Inovação em Medicina de Cranford, New Jersey (USA). Normalmente utilizado em marketing, este termo é amplamente utilizado para descrever qualquer produto derivado de fontes alimentares que provém benefícios adicionais a saúde em relação ao valor básico nutricional encontrado nos alimentos (BROWER, 1998). Normalmente esses produtos alegam prevenir doenças crônicas, melhorar a saúde, atrasar o processo de envelhecimento e aumentar a expectativa de vida.

Os nutracêuticos podem ser classificados como fibras dietéticas, ácidos graxos poliinsaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoácidos, minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio) (ANDLAUER & FÜRST, 2002).

Kruger & Mann (2003) definem os ingredientes funcionais como um grupo de compostos que apresentam benefícios à saúde, tais como as alicinas presentes no alho, os carotenóides e flavonóides encontrados em frutas e vegetais, os glucosinolatos encontrados nos vegetais crucíferos os ácidos graxos poliinsaturados presentes em óleos vegetais e óleo de peixe. Estes ingredientes podem ser consumidos juntamente com os alimentos dos quais são provenientes, sendo estes alimentos considerados alimentos funcionais, ou individualmente, como nutracêuticos.

Devem ter adequado perfil de segurança, demonstrando a segurança para o consumo humano. Não devem apresentar risco de toxicidade ou efeitos adversos de drogas medicinais (BAGCHI, et al., 2004).

Os Nutracêuticos podem ter um efeito sobre as doenças crônicas e alegam também um impacto favorável sobre as doenças cardiovasculares como os Infartos/isquemias, derrames, doenças arteriais coronarianas, hipertensão, tromboses e aterosclerose. Uma das estratégias citadas é que eles possivelmente reduzem os níveis circulantes de LDL – colesterol. Isso pode ser atingido através da modulação da produção de colesterol no fígado (monacolina, policosanol, leveduras, arroz, etc.). Em uma pesquisa realizada no ano de 2003 a Escola Médica da Península do Reino Unido, encontrou 11 nutracêuticos entre 25 estudos clínicos para a redução do colesterol.

A segunda estratégia abordada foi a de reduzir a possibilidade de oxidação neutralizando radicais com antioxidantes (resveratrol, bioflavonoides, ubiquinona, fenóis, flavonas etc.). A terceira estratégia foi a de reduzir a formação de placas ateroscleróticas através da atividade fibrinolítica e reduzir a pressão sanguínea (peptídeos dietéticos derivados de proteínas do leite mediados pela inibição da ECA).

De acordo com um recente estudo americano, a maior parte dos cardiologistas negligencia o uso de suplementos dietéticos, nutracêuticos e indicam remédios sem prescrição para pacientes cardíacos, pois os consideram inofensivos; e oferecem de forma desordenada intervenções dietéticas e de estilos de vida. Em outras palavras o uso de nutracêuticos na prática clínica são ignorados, onde foi concluído que os clínicos devem usar uma abordagem mais abrangente para a identificação do uso de nutracêuticos e fármacos.

 Aplicações atuais

Inúmeros nutracêuticos estão disponíveis no mercado. A seguinte tabela representa uma amostra dos nutracêuticos disponíveis, seus componentes e seu potencial benéfico à saúde humana.

Carotenóides

1. Beta-caroteno

Cenouras, diversas frutas

Neutralizam radicais livres, que causam dano celular; e auxilia nas defesas celulares antioxidantes.

2. Licopeno

Tomates e produtos processados dele.

Podem contribuir para a manutenção da próstata.

Fibra Dietética

Fibra insolúvel

Farelo de trigo

Pode contribuir para a manutenção do trato digestório.

Ácidos graxos

Ácidos graxos monoinsaturados

 

Nozes em geral

Podem reduzir o risco de doenças coronarianas

Flavonóides

Flavonóis

Cebolas, maçã, chá, brócolis

Neutralizam radicais livres, que causam dano celular; contém antioxidantes.

Isotiocianatos

Sulforafano

Couve-flor, brócolis, repolho, couve, raiz-forte.

Pode elevar a desintoxicação de componentes indesejáveis e auxilia nas defesas celulares antioxidantes.

Fenóis

Ácido cafeico, ácido ferulico

Maçã, pêra, frutas cítricas, alguns vegetais

Podem auxiliar nas defesas celulares antioxidantes. Podem contribuir para a manutenção da visão e saúde cardíaca.

Estanois/Esterois

Esteres de Estanol/Esterol

Geléias mel e margarinas enriquecidas, esteres de estanol e suplementos dietéticos

Podem reduzir o risco de doenças coronarianas.

Poliois

Adoçantes (xilitol, sorbitol, manitol, lactitol)

 

Algumas gomas de mascar e outras aplicações alimentícias.

Podem reduzir o risco de cárie dentária (cavidades)

Prebioticos/Probioticos

Lactobacilli, bifidobacteria

Iogurte, outros produtos lácteos.

Podem melhorar a saúde gastrointestinal e o sistema imune.

Fitoestrogenos

Isoflavonas (daidzeina, genisteina)

Feijão de soja e alimentos a base de soja.

Podem contribuir para a manutenção da saúde óssea, saúde cerebral e funções imunes; para mulheres, melhora da menopausa.

Proteina de Soja 

Proteina de soja

Feijão de soja e alimentos a base de soja.

Pode reduzir o risco de doenças coronarianas.

 Sulfidios/Tiois

Dithiolthionos

Vegetais crucíferos

Pode contribuir para a manutenção da função do sistema imune.

Adaptado de North Carolina Association for Biomedical Research, 2007.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.BROWER, V. Nutraceuticals: poised for a healthy slice of the healthcare market? Nat Biotechnol. 1998;16:728-731.
2. ZEISEL, SH. Regulation of “Nutraceuticals.” Science. 1999;285:185-186.
3. KWAK, N.; JUKES, D. J. Functional foods. Part 1: the development of a regulatory concept. Food Control. v. 12, p.99-107, 2001a.
4- ROBERFROID, M. Functional food concept and its application to prebiotics. Digestive and Liver Disease. v. 34,Suppl. 2, p. 105-10, 2002.
5- HUNGENHOLTZ, J.; SMID, E. J. Nutraceutical production with food-grade microorganisms. Current Opinion in Biotechnology. v. 13, p. 497-507, 2002.
6- ANDLAUER, W.; FÜRST, P. Nutraceuticals: a piece of history, present status and outlook. Food Research International. v. 35, p. 171-176, 2002.
7- KRUGER, C. L.; MANN, S. W. Safety evaluation of funcional ingredients. Food and Chemical Toxicology. v. 41, p.793-805, 2003.
8- BAGCHI, D; PREUSS, H. G.; KEHRER, J. A. Nutraceutical and functional food industries: aspects on safety and regulatory requeriments. Toxicology Letters. v.150, p. 1-2, 2004.
9- UBER, P.; SUMMERS, K.; MEHRA, M.R. Clinicians and Nutraceutical Use in Cardiology Patients: Ignorance and Neglect – Ann Intern Med July 6, 2010 153:65-66;
10- NORTH CAROLINA ASSOCIATION FOR BIOMEDICAL RESEARCH, Nutraceuticals, July,2007, Disponível em: <http://nutraceuticalsworld.com/contents/view/14974>. Acesso em: 09 jan. 2011.