História da dieta mediterrânea

LICINIA DE CAMPOS

Evolução histórica:

Podemos caracterizar 5 períodos históricos principais que influenciaram a alimentação mediterrânea:

•  Anos A C:

O comércio intenso entre as grandes civilizações, envolvendo muitas pessoas, permitiu a expansão dos produtos alimentícios mediterrâneos: Mesopotâmia, Egeu, Fenícia e mais tarde Cartago exportaram árvores de olivas, figos, uvas e amêndoas. Trouxeram para o Ocidente (Roma) pimentas e especiarias da Ásia (Índia). Estas colonizações diversificadas também introduziram trigo, centeio, aveia, frutas cítricas, carneiros, bodes e gado bovino nos países Mediterrâneos.

  Romanos:

Modificaram os produtos de base pela colonização: todo território conquistado tinha de cultivar árvores de oliva e uva. Desta maneira, os romanos marcavam os limites de seu poder. Impuseram o trigo na Turquia, Egito, Grécia, Sicília, Andaluzia e Languedoc:; espalharam o cultivo de ervilhas, feijões, lentilhas, grão de bico e folhosos verdes, todos trazidos das áreas orientais do Império Romano.

•  As últimas conquistas do mundo oriental:

Os árabes espalharam frutas cítricas ao redor de toda a área mediterrânea. Os bizantinos e especialmente os otomanos, tiveram significativa influência nas práticas culinárias nos séculos XII e XIII. As Cruzadas trouxeram cana de açúcar e arroz. A descoberta da China em 1298 permitiu o consumo do macarrão e frutos de cabaça (como pepino e leguminosas).

Algumas referências dizem que a dieta mediterrânea se formou em 2 períodos essenciais: Antigüidade Clássica e Império Romano. Durante a Antigüidade Clássica, o comércio internacional começou a se desenvolver. Isto permitiu que o Império Romano modificasse fortemente os hábitos dietéticos. Em contraponto, os árabes protegeram a diversidade e divulgaram conhecimentos agronômicos e técnicos. As cidades estiveram em simbiose com seus países. Estas práticas contribuíram para o desenvolvimento da cozinha regional.

•  Descobrimento das Américas:

Durante essa nova onda, alguns produtos, que eram introduzidos via Espanha e Portugal, se tornaram matéria prima na área mediterrânea, tais como milho, batata, tomate, pimentas doces, frutos de cabaça e chocolate. Finalmente, a última colonização (séculos XIX e XX) trouxeram trigo macio, lentilhas, milho, tomates, saladas, alcachofras, aspargos, castanhas e bolotas para Maghreb.

Mas a dieta mediterrânea se tornou popular graças ao dr Ancel Keys. Ele foi professor de Fisiologia na Universidade de Minnesota, de 1936 a 1972. Em 1941, Keys foi solicitado a desenvolver uma ração para o Exército Americano, apropriada para os soldados carregarem consigo em combate. Ele comprou alguns suprimentos num supermercado de Minneapolis: biscoitos duros, lingüiças secas, barras de chocolate e balas duras e desenvolveu a ração a partir desses ingredientes. Quando o Exercito começou a produzir em massa os pacotes, ele ficou surpreso ao vê-los marcados com a letra K, de Keys. Nascia a ração K.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele serviu como assistente especial do Secretário de Guerra. Ele notou que as mortes por doença cardíaca caíram drasticamente nos países que os mantimentos estiveram em baixa durante a guerra. E começou a procurar a conexão.

O conceito de dieta mediterrânea originou-se no Estudo dos Sete Países, iniciado por Keys em 1950. O estudo mostrou que, apesar do alto consumo de gorduras, a população da Ilha de Creta, na Grécia, tinha baixos índices de doença coronariana e de certos tipos de câncer com uma expectativa de vida longeva. Os padrões típicos da dieta tradicional de Creta, da maioria da Grécia e do sul da Itália no começo dos anos 60, eram considerados primariamente responsáveis pela boa saúde observada nesta região. A característica principal da dieta mediterrânea inclui abundância em produtos hortifruti (frutas, hortaliças, cereais integrais, nozes e leguminosas), azeite de oliva como fonte principal de gordura, peixes e aves consumidos em quantidades de baixa a moderadas, relativamente baixo consumo de carne vermelha, e moderado consumo de vinho, normalmente às refeições.

A primeira evidência clínica para suporte dos benefícios saudáveis da dieta mediterrânea vieram do Estudo de Lyon em Doenças Cardíacas, na qual 605 pacientes que tiveram enfarte do miocárdio foram contemplados, randomizadamente, com a dieta ao estilo mediterrâneo ou uma dieta de controle parecida com a preconizada pela American Heart Association . Os pacientes com a dieta mediterrânea eram encorajados a consumir mais frutas, hortaliças e peixes, a comer menos carne vermelha, e substituir manteiga e creme por margarina rica em ácido a – linolênico ( para imitar o conteúdo n-3 da dieta tradicional de Creta). Após um hiato de 27 meses, a taxa de eventos coronários reduziu-se em 73% e a mortalidade total em 70% no grupo interveniado

Referências:

  1. Willett WC, Sacks F, Trichopoulou A, et al. Mediterranean diet pyramid: a cultural model for healthy eating. Am J Clin Nutr 1995;61:Suppl:1402S-1406S. [Abstract]
  2. de Lorgeril M, Renaud S, Mamelle N, et al. Mediterranean alpha-linolenic acid-rich diet in secondary prevention of coronary heart disease. Lancet 1994;343:1454-1459. [Erratum, Lancet 1995;345:738.] [ISI] [Medline]
  3. Singh RB, Dubnov G, Niaz MA, et al. Effect of an Indo-Mediterranean diet on progression of coronary artery disease in high risk patients (Indo-Mediterranean Diet Heart Study): a randomised single-blind trial. Lancet 2002;360:1455-1461. [CrossRef] [ISI] [Medline]
  4. Hu FB, Willett WC. Optimal diets for prevention of coronary heart disease. JAMA 2002;288:2569-2578. [Abstract/Full Text]
  5. Kafatos A, Diacatou A, Voukiklaris G, et al. Heart disease risk-factor status and dietary changes in the Cretan population over the past 30 y: the Seven Countries Study. Am J Clin Nutr 1997;65:1882-1886. [Abstract]