Dr. Celso Cukier
Para que serve a glutamina (GLN)?
A GLN é o principal combustível oxidativo das células epiteliais, constituindo-se em aminoácido oxidável e fonte energética preferencial para divisão celular dos enterócitos, colonócitos e linfócitos gastrointestinais. Uma das funções mais importantes da GLN é a transferência de nitrogênio aos tecidos. É o substrato mais importante para a síntese renal de amônia, regula a síntese hepática de glicogênio e é precursora da síntese de nucleotídeos e algumas proteínas.
Por que usar glutamina no paciente crítico?
A glutamina plasmática no paciente crítico sofre decrescimo de 27% a nível muscular e diminui em 54% no plasma (Griffith – ESPEN, 1997). Em vigência de sua importante função a células de rápida proliferação e ao sistema de varredura antioxidante (influencia a formação da glutationa), a GLN torna-se essencial em situações críticas e sugere-se sua suplementação farmacológica.
Qual a dose recomendada de glutamina?
Estudos de dose sugerem quantidade variadas para a oferta de glutamina entre 0,15 e 0,5 g/kg/dia. O grau de comprometimento inflamatório e/ou infeccioso, presença de desnutrição, duração da doença e o tratamento escolhido podem interferir na dose utilizada.
Por que se usa arginina em imunonutrição?
A arginina, considerada aminoácido semi-essencial, teve seus estudos em fármaconutrição iniciados em 1980, quando Barbul e col. (J. Surg. Res. 29:228-35, 1980) demonstraram que sua suplementação aumentava o peso do timo de ratas sem trauma e diminuia a involução tímica após o trauma. Clinica e experimentalmente, a arginina promoveu retenção nitrogenada e melhora da cicatrização e da função imunológica. A arginina desempenha outras funções com mecanismo ainda pouco compreendido como estimulação da produção do hormônio de crescimento e liberação de prolactina, insulina, glucagon e catecolaminas. É precursora de poliaminas e óxido nítrico e está relacionada com a síntese de aminoácidos e seus derivados e interfere diretamente no metabolismo da uréia. Como dose recomendada deve-se evitar ministrar mais que dois por cento do total calórico como arginina.
Como é o metabolismo da arginina?
O metabolismo da arginina está relacionado com os aminoácidos ornitina e citrulina. Aproximadamente 25% da glutamina intestinal é transformada em citrulina na mitocôndria intestinal. É captada da circulação principalmente pelos rins (80%) que a metaboliza em arginina. No rim há grande quantidade da enzima arginina sintetase. O tecido hepático, rico em arginase, capta a arginina e a metaboliza em ornitina e citrulina.
O que são nucleotídeos?
Os nucleotídeos são precursores do ácido desoxiribonucléico (DNA), responsável pela síntese de ácido ribonucléico (RNA), que é indispensável à síntese de proteínas celulares. São compostos por uma base nitrogenada (purina ou pirimidina), um açúcar de cinco carbonos e um ou mais grupos fosfatos. Participam da formação da adenosina trifosfato (ATP) influenciando energeticamente processos metabólicos. Embora sua função no sistema imunológico não esteja bem definida, linfócitos T parecem depender do fornecimento tecidual de nucleotídeos. Experimentalmente, dietas isentas de nucleotídeos modificam desfavoravelmente a resposta imunológica a infecções e sua suplementação proporciona melhora na função dos linfócitos T auxiliares e revertem a imunossupressão induzida por desnutrição e jejum. Embora maiores investigações se façam necessárias a inclusão de nucleotídeos na dieta poderá ter interesse clínico em situação de trauma, imunossupressão e infecção.
É verdade que pode-se usar o hormônio do crescimento (GH) em terapia nutricional?
O hormônio de crescimento (GH) é uma pequena proteína contendo 191 aminoácidos em cadeia única, com peso molecular de 22.005 Daltons, produzido pela hipófise anterior. É secretado pela adenohipófise durante toda a vida . Os receptores do GH em seres humanos estão presentes no fígado, adipócitos, fibroblastos, linfócitos e células do trato gastrointestinal, especialmente nos enterócitos e colonócitos. O GH diminui o catabolismo protéico ao reduzir a oxidação de aminoácidos. Favorece o balanço nitrogenado, mesmo com aporte nutricional hipocalórico ao reduzir a oxidação da glicose e multiplicar a oxidação de ácidos graxos em até três vezes. O GH aumenta ainda o nível de IGF-1 em 250%, da insulinemia em 50%, e provoca aumento discreto da glicemia. Observa-se efeito na distribuição de líquidos corporais, que tenta preservar a massa celular e mantém o compartimento de água intracelular evitando a retenção de líquido extracelular. O emprego coadjuvante de GH em NPT tem mostrado benefícios em situações críticas, como intervenções cirúrgicas de grande porte, trauma, infecções, síndrome do intestino curto e doenças crônicas; ao se associar à retenção nitrogenada, síntese protéica, recuperação mais rápida, menor tempo de hospitalização e melhor qualidade de vida aos pacientes.
O hormônio de crescimento pode influenciar a imunidade?
O GH produz efeito positivo no sistema imunológico ao estimular mecanismos de defesa inespecíficos mediados por leucócitos. Favorece a produção de imunoglobulinas e estimula os linfócitos T supressores, aumentando a relação CD4/CD3 em 85%. Estes efeitos não são observados em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida ou transplantados.
Referências bibliográficas:
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Kudsk, KA; Minard, G; Croce, MA – A randomized tril of isonitrogenous enteral diets after severe trauma: An immune-enhancing diet reduces septic complications. Ann Surg 224:531-43, 1996.
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