Todas as fibras dietéticas chegam ao intestino grosso de forma inalterada. Ao contrário do que ocorre com as enzimas digestivas humanas no intestino delgado, as bactérias do cólon, podem digerir a fibra em maior ou menor grau, dependendo de sua composição química e de sua estrutura.
A fermentação consiste, basicamente, de uma reação de decomposição, a qual ocorre pela atuação da flora bacteriana no cólon sobre as substâncias que resistiram à atividade das enzimas digestivas.
A degradação total ou parcial da fibra no cólon não depende apenas do tipo de fibra, mas também da velocidade pela qual realiza-se o trânsito no trajeto do cólon, além de ser possível também, encontrar diferentes graus de fermentação no caso em que a fibra seja componente dos alimentos, isto é, participando de sua estrutura normal ou administrada isoladamente ( 5 ).
Os principais produtos finais da fermentação das fibras são gases (CO 2 , H 2 e CH 4 ) e ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), sendo acetato o mais abundante, seguido do propionato e do butirato. Todavia, suas proporções exatas dependem da estrutura química das fibras e da composição da flora intestinal ( 75 ) . Os produtos intermediários da fermentação incluem: lactato, sucinato e piruvato ( 18,75 ).
Inicialmente acreditava-se que os AGCC produzidos durante a fermentação, ocasionavam a passagem de água para a luz intestinal e que esta era uma das causas que produziam as diarréias por má absorção de carboidratos. Posteriormente, foi constatado que estes AGCC, em sua maior parte, são rapidamente absorvidos e desaparecem na luz intestinal, produzindo um aumento da absorção de sódio e água ( 76,77 ).
Os ácidos graxos de cadeia curta são absorvidos pelo epitélio do cólon. Uma vez dentro do epitélio, transformam-se em fonte de energia, sendo usados como "combustível" (butirato) para o organismo, podendo representar até 30% das necessidades energéticas de um indivíduo saudável ( 78 ), ou passam para dentro da veia portal (principalmente acetato e propionato). Os ácidos graxos de cadeia curta são, então, absorvidos e metabolizados pelo fígado e outros tecidos periféricos. Os gases são excretados através da respiração, flatos ou como parte das fezes.
Os AGCC são responsáveis: pelo fornecimento de energia ao hospedeiro, o que é benéfico em casos de má absorção ( 75 ); pelas diminuições no pH intraluminal e na concentração de amônia e uréia ( 18,20 ); pela intensificação da absorção de sódio e água, o que é benéfico em casos de diarréia ( 79 ); pela modulação da motilidade gastrintestinal ( 80 ); pelo estímulo do desenvolvimento das células epiteliais do íleo e do cólon ( 81 ); pela possível proteção contra o câncer do cólon ( 82 ); e pelos efeitos benéficos sobre a homeostase da glicose e metabolismo dos lipídios ( 18 ).
O metabolismo dos AGCC por parte das células da mucosa do cólon produz, entre outras substâncias, corpos cetônicos, CO 2 e H 2 O, que são muito importantes para uma adequada função da mucosa do cólon.
Cummings et al ( 83 ) observaram aumento da excreção de ácidos graxos de cadeia curta, quando se ingere uma dieta rica em amido resistente com produção elevada de butirato, acetato e propionato. Estes ácidos graxos voláteis alteram o pH local e influenciam o metabolismo dos colonócitos. Annison e Toping ( 84 ), afirmaram que o butirato possui efeito sobre a renovação celular dos colonócitos. A deficiência dessa substância no intestino grosso tem sido associada ao desenvolvimento de processos carcinogênicos .